Robson Fontenelle: atuação no setor de comunicação desde 1998

Perfil traçado para a jornalista Larissa Borges, editora do Jornal Minas Marca, em novembro de 2013, e atualizado para esta postagem. Confira aqui a entrevista na íntegra:

1 – Fale um pouco sobre a sua trajetória profissional (onde estudou, porque optou por esta área).

Minha trajetória teve início no Colégio Estadual Central. Foi lá que descobri meu amor pela comunicação. No final da ditadura entre os movimentos estudantis pró-grêmio, criei com um grupo de amigos a Comunicação – Associal Cultural do Colégio Estadual Central. Éramos um grupo de 80 alunos da escola que realizavam um jornal mural, uma rádio na hora do intervalo e muitas atividades culturais que iam de festivais de música, teatro à grandes eventos com o objetivo de angariar fundos para ações de melhoria da estrutura física do Colégio. Nessa efervecência me descobri coordenando a equipe e criando projetos. Na época me preparava para o vestibular de medicina. Um professor de Literatura, Celso Álvarez, me apontou o caminho da literatura e do jornalismo. Eu escrevia muito bem, era criativo. O apoio dele me encaminhou para a comunicação. Havia também a influência de um amigo do Estadual, o Juarez Gonçalves, Filho do Régis Gonçalves, jornalista que na época tinha uma agência onde eu aprendi muito da publicidade da época.
Em 1991 entrei na PUC-Minas para cursar jornalismo. Formei-me em 1994 e pedi complementação de curso para Publicidade. Nesse ínterim me envolvi nos laboratórios da faculdade. No primeiro período logo, tratei de conhecer bem das áreas. Fui monitor voluntário nos laboratórios do fotografia, vídeo, rádio e no jornal Marco. Mais tarde me tornei monitor de Rádio o que me abriu as portas na Rádio América e de lá na Rádio Globo, lugar que vi nascer a primeira emissora de jornalismo 24h do Brasil: a rádio CBN. Participar da CBN com o apoio e aval do Mozahir Salomão e do Ike Yagelovick me rendeu uma indicação para ir trabalhar na Rede Manchete de Televisão.Lá aprendi muito e fui produtor, pauteiro, apurador, repórter e até dublê de apresentador. Passei por  quase todas as emissoras, fui para a TV Cultura de Itabira, onde fui editor chefe e de lá para a TV Cultura de São Paulo. Na volta trabalhei com Lauro Diniz no Canal 15. Larguei TV e fui estudar mestrado na PUC. Retomei na literatura os estudos de cinema que havia começado na Belas Artes, da UFMG. Defendi uma dissertação sobre relações, interações e traduções intersemióticas entre literatura e cinema, baseada no livro Primeiras Estórias, de joão Guimarães Rosa, e o filme Outras Estórias, de Pedro Bial. Nesse período iniciei minhas atividades como professor universitário. Em 2000 fui dar aulas na Newton Paiva, onde assumi, anos depois a Chefia de Redação e administração da Rede Super, Canal 23.Participei também da gênese e criação de muitos programas da PUC-TV junto com Sandra Freitas, Marina Rievers e Madalena Fagundes. A carreira acadêmica hoje se resume às aulas de pós-graduação em cursos do Instituto de Educação Continuada da PUC-Minas e no Pitágoras. Paralelo a isso tudo, desde 1994, trabalho na agência Fábrika Comunicação Integrada, que fundei ainda na faculdade.
A escolha pela comunicação se deu pela minha facilidade em lidar com esse universo. A paixão pela publicidade descoberta dentro de uma agência e posteriormente o jornalismo como porta de entrada acabaram sendo um caminho natural. E nos anos 2000 atuando novamente com jornalismo e publicidade na Editora Abril acabaram me trazendo para o cominho da comunicação integrada. A vinda do relações públicas Sinval do Espírito Santo Neto para a agência também propiciou isso com a visão sistêmica que as relações públicas têm. Acabei me interessando pelo assunto e nos vimos pesquisando e empregando a filosofia e os conhecimentos da comunicação integrada.

2 – Há quanto tempo existe a Fábrika Comunicação?

No dia 24 de Outubro a FBK completa 21 anos. E posso dizer que pelo menos há 28 anos trabalho e vivo comunicação. A agência foi batizada em 1994 com o nome de Fábrica de Jornais e em 1999 adotou o nome Fábrika Comunicação Integrada. Hoje iniciamos um novo ciclo da agência, com o novo nome fantasia e marca:  FBK Comunicação. Temos muito orgulho de ser uma das únicas agências com o trabalho reconhecido pelo Conselho Regional de Relações Públicas tendo recebido em 2010 o prêmio Jorge Caixeta. Também fomos a primeira agência mineira a receber o prêmio de excelência gráfica da Abrigraf na categoria impressos, com uso criativo de recursos gráficos. E a primeira a receber do SEBRAE e da Gerdau o prêmio de Responsabilidade Social pelos programas sociais adotados na empresa. Fora outra série de prêmios por revistas, VT´s, campanhas de responsabilidade social e design. Sem falar nos prêmios ABERJE Minas e ABERJE Nacional conquistados com ações realizadas em parceria com a MBR e a VALE. Também não podemos deixar de lembrar que fomos a primeira agência gourmet do Brasil. Recebíamos clientes e parceiros para as refeições feitas pelo Sinval, por mim ou pela cozinheira da nossa equipe.

3-  Quais estratégias você utiliza para se manter um profissional sempre atualizado sobre o mercado de comunicação?

A estratégia é acompanhar as publicações do meio, ler Minas Marca, Meio & Mensagem, Comunique-se, Imprensa, portais de comunicação, publicidade, propaganda, marketing. Estar em sala de aula incentivando a discussão e a produção de conhecimento. participar de seminários, palestras e eventos afins. Sou muito tímido, evito badalações, festinhas do meio. Prefiro jantares, encontros com amigos para um bom papo e troca de idéias produtivas.

4-  Como você vê o mercado de comunicação e marketing em Minas?

O mercado mineiro é muito fechado, tradicional. Ainda temos o ranço do familiar, do tradicional, do QI. Quem indica ainda faz peso. Muitas empresas de médio e grande porte que poderiam ser boas contas de comunicação ainda não investem o suficiente. Há desconfiança. O mensalão ainda respinga em muitas agências. Falta transparência em alguns processos. O Estado de Minas Gerais tornou-se um bom pagador, assim como o Governo Federal. Os municípios ainda não transmitem confiança. Nem nas licitações nem nos pagamentos. As empresas privadas de grande porte procuram agências do eixo Rio-São Paulo. As maiores contas ainda estão fora de Minas embora nossas agências exportem talentos e sejam muito criativas e responsáveis. Temos um mercado fértil a ser explorado. Mas  a mineração e a siderurgia tiveram uma mega retração a partir de julho de 2012 causando danos à industria da comunicação local. O Governo federal finge que não há crise e as agências, fingem que não foram impactadas pela realidade econômica. Sofrem todos mantendo uma imagem e um status que não conferem à realidade. É nítido a queda da importância e dos investimentos em comunicação interna, por exemplo. Na crise é a primeira a ser cortada. Sofre um impacto triste e é relegada a último plano. Somos referência em Comunicação Interna no setor de mineração. Já atendemos a quase todas as grandes mineradoras ao mesmo tempo. Vivenciamos isso no nosso cotidiano. A relação com a comunidade também perdeu investimentos. É preciso que o mercado não se esqueça da máxima que, na crise, é o público interno satisfeito e os stakeholders em relacionamento que mantém vivas as marcas. A esperança de retomada do investimento em 2014 devido à Copa e às eleições não vingou e hoje é vislumbrada para 2016, devido às olimpíadas. Com a crise política e econômica estabelecida muito provavelmente somente em 2017 tenhamos um novo ciclo econômico. Mente quem não reconhece a retração do mercado e o volume de demissões que fomos obrigados a fazer nos últimos 3 anos.
O mercado em Minas, ainda assim é promissor e promete para os próximos 20 anos. A formação de grandes grupos como foi o caso do RicardoEletro, abre a possibilidade das agências locais ganharem espaço. Varejo, estética, moda, web, são setores que cada vez mais devem priorizar a inteligência estratégica local. A seguir, devido às características dos consumidores, outros setores vão trazer suas contas de volta. A regionalização não tarda mais a ocorrer. As mega empresas de comunicação, os grupos mundiais, não falam a língua local. A globalização da linguagem não surte efeito como dantes. O movimento a seguir é de volta.

5 – Qual o momento mais marcante da sua carreira?

Difícil de selecionar. Houve muitos momentos. As homenagens dos alunos… premiações de diversas ordens… o reconhecimento pelo trabalho sério, de qualidade, que não visa apenas ao lucro mas ao sucesso do projeto de comunicação do cliente. Como jornalista posso dizer que foi o furo na descoberta e divulgação do envolvimento do ídolo Reinaldo Lima com as drogas. Dei o furo na TV Manchete. Fiquei arrasado: tinha a exata noção que poderia ter destruído a carreira e o nome do ídolo. Conseguimos com a ajuda do à época Deputado Federal Elias Murad  e a diretoria regional da Manchete auxílio e tratamento pro craque. na Rede Minas produzi uma série de reportagens e programas sobre o primeiro Encontro Internacional de Crianças do CISV (Children’s International Summer Villages), ocorrido em Belo Horizonte. Sem falar da transformação da Rádio Globo em CBN. Foi uma experiência e tanto! Na publicidade tiveram vários. Os prêmios Aberje local e nacional com o case “Andar na Passarela está na Moda”, em que criamos com a equipe de Comunicação da MBR a estratégia e a identidade da inauguração de uma passarela de pedestres no bairro Jardim Canadá, em Nova Lima. Transformamos a passarela num objeto de desejo aliado à moda. renato Loureiro fez um desfile, criou uma coleção que contou com a ajuda das bordadeiras do bairro e de modelos da comunidade, além de algumas nacionais e internacionais. Foi um sucesso junto à comunidade, à empresa, à imprensa em geral e especializada em moda. Abriu também as portas para fazermos a transição de marca da MBR para a Cia. Vale do Rio Doce e dessa para VALE, com quem trabalhamos até hoje. E na Vale, projetos pioneiros como a criação da Biovale (que beneficia óleo de Dendê e transforma em combustível para trens de ferro e equipamentos), S11-D (projeto piloto em Carajás com o objetivo de aumentar a produtividade com alto índice de mecanização e menor risco de vida). E o mais emocionante: pesquisar a história da Praça da Liberdade, criar o kit de imprensa dos 15 anos de adoção da praça com material fotográfico, videográfico e ter criado a sinalização base da praça, no qual a atual é inspirada. Dá orgulho deixar nossa marca no cartão postal de BH. E no corredor cultural da Praça da Liberdade a Fábrika está presente: inauguramos o Museu das Minas e do Metal, da MMX, trazendo para BH a primeira projeção mapeada de Minas, ação que levou Eike Batista para o Twitter e o transformou em ícone da rede na época; participamos do Memorial Vale. Sem falar no Projeto FRED que adotamos desde quando nasceu. Fizemos seu primeiro folder. Eu estava na Penitenciária de Contagem fotografando para o Projeto, em 2000, quando começou uma rebelião e quiseram nos fazer de reféns. Homens de dois pavilhões em que aconteciam as oficinas do FRED nos isolaram e protegeram. Fomos liberados. Com as imagens daquele dia fizemos o primeiro vídeo institucional do FRED e o primeiro folder que rendeu o patrocínio do Carrefour e da Cemig, patrocinadora até hoje. E dali vieram as ideias para as Leis de incentivo à Cultura. Tenho orgulho do FRED e considero o projeto nosso carro-chefe de comunicação e responsabilidade social. Fazer história é sempre marcante.

6-  Vida pessoal. Onde nasceu. O que gosta de fazer nas horas vagas (hobbies…)?

Eu nasci em Belo Horizonte, filho de retirantes do nordeste. Meu pai e minha mãe são de Parnaíba, litoral do Piauí. Tive uma infância simples. Somos sete filhos. Nos anos 70/80 vivíamos como toda família de classe média-baixa. A luta dos meus pais era por dar-nos estudo. Hoje, todos formados, muitos pós-graduados, carrego comigo a marca desses tempos nada fáceis que me ensinaram a ser ético, honesto, realista, crítico, estudioso e empenhado nos meus objetivos. Sou do tipo empreendedor. Adoro música ( já estudei e abandonei… estou precisando voltar!…), cinema e literatura (sou mestre nos dois últimos), amante da gastronomia e de uma boa cerveja. Não troco um bom encontro com amigos por nada. E se for um encontro gastronômico então… também adoro sossego, sítio, plantas e me divirto com meu casal de gatinhos (Liu e Lou).

7 – Qual o livro está lendo no momento?

Tenho um de cabeceira a quem sempre recorro: Grande Sertão Veredas, de João Guimarães Rosa. Sempre o folheio. Adoro relê-lo. Cada nova leitura é uma descoberta. Agora estou lendo o romance “O preço de ser diferente”, de Mônica Castro, Editora Gráfica Vida e Consciência, que ganhei de um amigo baiano. E tenho sempre em mãos algum livro técnico sobre Marketing, Publicidade e Propaganda, Design, Branding, Midia, Roteiro, Vídeo ou Cinema.

8– Qual o seu filme preferido?

Difícil escolher apenas um… Amo “Tempos Modernos” do Charles Chaplin. Adoro rever ” A velha a fiar”, de Humberto Mauro. “A noviça rebelde” e “A fantástica fábrica de chocolates” o original e a versão pós-moderna são clássicos. ” O resgate do soldado Ryan” pela ousadia da câmera e narrativa subjetiva no filme todo me encanta. mas quem me arranca lágrimas é mesmo a “Lista de Schindler”, ambos de Steven Spielberg. Desde criança sou fã de George Lucas e todos os seus filmes da saga “Guerra nas Estrelas”. Do tipo que compra filmes e a coleção da Adidas sobre o filme… rs. Adoro pesquisar filmes que foram baseados na obra de João Guimarães Rosa, como o “Outras Estórias”, do Pedro Bial, “A Terceira Margem do Rio”, do Nelson pereira dos Santos e de pessoas que fizeram versões dos contos em vídeo. Eu mesmo, junto com a Guga Barros, filmamos um minidoc chamado Joãozito, sobre a infância de Rosa retratado em Manuelzão e Miguilim. A intenção era exibí-lo no Seminário Internacional Guimarães Rosa, realizado na PUC-Minas pelo Programa de Pós-Graduação em Letras. Acabou sendo exibido na TV Cultura. Devo disponibilizá-lo na internet. Talvez componha o acervo da TV FBK, a ser lançada brevemente.

9 – O que um profissional de comunicação e marketing deve ter para construir uma carreira de sucesso na área?

Vontade, coragem, determinação. Eu não sou filho de ninguém da área, não herdei nada nem tive QIs. Meus QIs foram adquiridos com minha seriedade, competência e determinação, acima de tudo. Sempre fui pró-ativo. E considero essa capacidade a mais importante de todas. No mercado tem lugar pra todo mundo. Você tem que se diferenciar e destacar. Sempre tem lugar para os bons. E leitura, que é fundamental. Sem leitura o conhecimento é falso. essa de que o Google sabe tudo por mim dá uma doce e falsa ilusão de detenção de conhecimento. É a efetividade do vazio. Se é o que se tem de memória, história, cultura e conhecimento. Saber conversar, opinar, entender processos, raciocinar e racionalizar fazem a diferença e transformam a criatividade.

 

Robson Fontenelle é CEO da FBK Comunicação Integrada,  prof. universitário, consultor do SEBRAE associado à ABEDESIGN.