Ideação

Final de ano é sempre tempo de se fazer balanço. Esse ano de 2015 então tem uma vasta gama de assuntos a serem analisados. Mas se pensando em comunicação e design apenas já temos um vasto campo de análise. 2015 foi o ano da crise mas sobretudo o ano da transformação. Em Minas Gerais, a cadeia produtiva da comunicação passou o ano se reinventando.

As agências de publicidade de reuniram por intermédio do SINAPRO-MG e, pela primeira vez na história, o mercado se uniu num projeto com o SEBRAE-MG para rever o modelo de negócios. O que começou com as agências despertou interesse no restante da cadeia produtiva. Para 2016 o projeto deve crescer e sem dúvidas o mercado de publicidade no Estado não será mais o mesmo. O processo de qualificação despertou nos empresários da economia criativa uma reação em cadeia que só pode terminar em inovação: da gestão à precificação; da abordagem ao relacionamento com os clientes; e sobretudo, na forma de enxergar o mercado de modo que as empresas consigam ser sustentáveis, inovadoras, coesas, coerentes com a realidade atual. Ganham as agências, os clientes, os fornecedores e toda a cadeia da indústria criativa. O desafio agora é estender essa oportunidade a mais empresas do setor (infelizmente, muitas não aproveitaram a oportunidade; ainda se encontram sob viseiras empresariais enraizadas há anos). Além disso há que se despertar o consumidor de comunicação para a importância desse momento que gera novas e sustentáveis formas de relacionamento, remuneração e parcerias. É o momento de se descondicionar o olhar. Se o cliente alega que não tem mais verba, por outro lado a agência comprova que o modelo de negócio dos anos 80 e 90 faliu de vez; não há porque se trocar mídia por criação e nem tampouco fazer plano de mídia de preguiçoso. Entender o cliente, estar próximo dele, rever as formas de se comunicar com os públicos e inovar nos meios é cada vez mais importante. Pensamento estratégico assume o lugar de planejamento de mídia. As grandes estruturas vão ceder lugar a outras mais ágeis, econômicas e eficazes.

E no mercado de design o movimento também promete ser grande em 2016. Pesquisa encomendada pela regional Minas da ABEDESIGN (Associação Brasileira das Empresas de Design) realizada pela BRAIN e divulgada nesta terça-feira, 15/12, aponta a percepção dos escritórios de design sobre o mercado e do mercado sobre os escritórios mineiros. A iniciativa é super importante para o desenvolvimento deste nicho em Minas. Basta dizer que em 2016 a estimativa é que o mercado de design brasileiro movimente 2,5 bilhões de reais. Somente o SEBRAETEC, programa do SEBRAE-MG, movimentou em Minas por intermédio da ABEDESIGN cerca de 2,5 milhões de reais em 2014. Esse 2015 o crescimento esperado era em torno de 30% desse valor podendo chegar no fechamento do ano a 5 milhões de reais. Mas nosso mercado é pouco explorado ainda. A pesquisa qualitativa divulgada mostra faces preocupantes do mercado: a maioria dos designer mineiros são free-lancers e compõem a base da pirâmide. Os pequenos e médios escritórios são a grande maioria. Em Minas não há nenhum grande escritório de design o que equivale dizer nossas empresas não ultrapassam os 40 funcionários. Outra realidade que chama a atenção: aumentou a demanda por profissionais home-office contratados por demanda. Há pelo menos dois anos tenho chamado atenção nas reuniões da ABEDESIGN de que precisamos conhecer o perfil desse designer, entender como se dá a remuneração no mercado, valores e a partir daí estabelecer métricas e parâmetros. Nesse mesmo mercado há profissionais qualificados com salários díspares o que fomenta o mercado informal e destrói qualquer política de precificação visto que o freela não tem os mesmos custos de as empresas estabelecidas. É justamente nesse cenário que a contratação por demanda vai ganhando espaço e pode ser uma faca de dois gumes. O Design precisa ser encarado como negócio. A intenção de se estabelecer um programa no setor de design parecido com implementado pelo SEBRAE-MG junto ao de publicidade pode ser uma boa saída. E vou adiante: quando na pesquisa aparece que o cliente contrata agência de publicidade porque ela entrega design também me dá calafrios de pensar que muita gente da publicidade, sem qualificação em design, se arvora denominar-se designer. Pior: designer que se propõem a fazer publicidade sem conhecimento técnico. O limiar entre as áreas se perdeu não só por culpa das más formações acadêmicas distorcidas pelas escolas e pelo MEC (falo confortavelmente isso porque vivi nas universidades que dei aula esse embróglio e sempre o questionei seja na publicidade seja no design). O resultado disso é que todo mundo faz tudo, de forma desqualificada, e o cliente compra a preço de banana achando que fez o negócio da China (e literalmente o fez! Levou gato por lebre…) Ou os setores se tornam parceiros e as agências se especializam e tem equipes de múltipla formação ou o mercado está fada a ser terra de ninguém. Resultado disso? As empresas vão comprar design lá fora. E compram em São Paulo ou no Rio porque acham que lá há maior qualificação que aqui. Não caros leitores! Isso é uma falsa impressão e temos que romper com essa visão turva dos contratantes. Até porque não é chique contratar gente de fora – é anti-econômico e demodée. Nossos profissionais são muito qualificados e a comprovação está aí no pós-organização e união em torno da ABEDESIGN que começou com 5 escritórios tradicionais de BH e hoje em Minas já reúne quase 50 associados, sendo 230 no país divididos em 9 regionais. Ponto pra Minas: é a única regional que gera renda a partir de negócios realizados pelos associados através da parceria com o SEBRAE-MG. Estamos fortes e resolutos em abrir nichos de mercado e fortificar o negócio Design. Cumpre-nos agora a árdua tarefa de nos aproximar, cada vez mais, da realidade dos clientes e vivenciar seus negócios para fazendo uso das ferramentas e estratégias próprias do Design oferecermos ao mercado inteligência para a eficiência: de processos, produtos, inovações. Basta citar o Design Thinking, ferramenta que tem ganho destaque e vem fortalecendo o setor de produtos e serviços.

Que venha 2016! E que venham os novos paradigmas da comunicação, da publicidade e do design. E da interseção dessas áreas. Eu sou suspeito. Acredito na comunicação sistêmica, multidisciplinar e defendo a comunicação integrada. Passou da hora de olharmos para além dos nossos próprios umbigos…

Robson Fontenelle é CEO da FBK Comunicação Integrada, prof. universitário, consultor do SEBRAE associado à ABEDESIGN.