Num quadro negro a palavra educação escrita em giz com uma lâmpada demonstrando como o design é agente motivador da educação.

Entrevista concedida à jornalista Larissa Borges, editora do Jornal Minas Marca, sobre a relação entre o Design e a Educação, em junho de 2014. Confira a íntegra aqui:

1 – Qual a importância do design no processo educacional?

O design tem toda importância no processo educacional, não só por despertar o apelo estético no educando, mas, sobretudo, por desenvolver conceitos como usabilidade, acessibilidade, uso racional e ergonomia, entre outros. Hoje o Design Thinking vem ganhando espaço e se mostrando eficaz na solução de problemas a partir da interação, cooperação e co-working.

2 – Como o design pode ser utilizado para aperfeiçoar a aprendizagem diante das necessidades de cada indivíduo e das novas tecnologias?

Vivemos numa sociedade de apelo visual. Nesse sentido o design oferece substancialmente conteúdo para essa aprendizagem. Uma simples diagramação explorando bem o campo visual pode definir a melhor memorização de uma matéria, conteúdo ou informação. A construção de infográficos, a tradução da informação escrita em visual agem como facilitadoras desse acesso ao conhecimento e à informação facilitando para o entendimento, compreensão e armazenamento da informação  na memória visual. Há também o apelo tátil, os formatos manipuláveis, que em forma de cubos, jogos dimensionais ou mesmo tabuleiros que geram brincadeiras podem colaborar pedagogicamente nesse aperfeiçoamento do aprendizado. Para além dessa parte prática, o Design Thinking pode ajudar fornecendo processo, análise e sintetização/resolução de problemas de forma sistêmica, para além de um único ponto de vista.

3 – Como as novas tecnologias contribuíram para a inclusão do design no processo educacional?

A valorização do design é algo bem novo, que vem passando por um aperfeiçoamento constante sobretudo nos últimos 50 anos. De lá para cá se percebeu o quanto novos formatos, possibilidades de interação, imagens e manipulação tátil podem ser auxiliares no processo educacional. Basta lembrar que nos anos 70 tínhamos jogos educacionais como o “Pequeno Engenheiro” que nada mais era que toquinhos em formatos retangulares, quadrados ou triangulares ofereciam possibilidade de manipulação das peças e formação de casas, prédios, palácios, etc. Hoje essa construção não se dá mais pelo manuseio das peças mas pela intervenção virtual com possibilidades infinitamente mais amplas que permitem construções inimagináveis há 40 anos. As crianças mal nascem e já sabem manipular telas touchscreem. Nesse sentido as novas tecnologias permitiram o design se aperfeiçoar e chegar mais próximo do usuário que hoje constrói carro colaborativo. A FIAT teve recentemente uma experiência fantástica com o “Mio”. A migração dos suportes educacionais tradicionais como papel e lousa para o ambiente virtual permitiram também dar uma nova noção de volumetria, cores, formas, interação. Os formatos mudaram e abriram espaço para a criatividade, a intuição, a auto-aprendizagem. Hoje o processo educacional não prescinde mais da relação exclusiva professor-aluno. Há vídeo-aulas, aulas interativas, processos que inseriram o design e seus fundamentos no processo educacional. O processo de construção do pensamento começa a mudar a partir da análise e da sintetização das necessidades e visão generalista das soluções necessárias e possíveis.

4 – Como os professores podem utilizar o design para melhorar seus métodos de ensino?

Os professores podem utilizar o design de várias formas para melhorar seus métodos de ensino. Uma delas é promovendo o descondicionamento do olhar, provocando novas experiências de uso. Uma simples embalagem que foge ao convencional provoca alterações perceptivas e novas experiências que podem ajudar ao aluno sair da mesmice, pensar diferente, usar sua inteligência emocional, seu senso prático em favor de si e dos outros. Formas, cores, ilustrações, sensações visuais, táteis, dimensionais podem ser fundamentais para o ensino da matemática, física, história, todas as disciplinas, inclusive o português, na alfabetização. Moldes, letras caixa, entre outros podem estimular ao conhecimento das letras e interação com elas também no plano virtual. E o principal deles, se aproveitando do Design Thinking para estimular o poder de análise, sintese e resolução das questões apresentadas.

5 – Quais os benefícios para os alunos quando o design é usado no processo educacional?

Toda a sorte de benefícios está acessível aos alunos. O maior deles eu diria que passa pelo desenvolvimento cognitivo, pela percepção e praticidade na concepção e uso do conhecimento. O design está tudo: na interação, no modo de pensar, de construir um raciocínio lógico, no poder de análise, síntese, na percepção.

6 – Por que acredita que design e educação podem ser trabalhados juntos?

Por tudo isso que expus aqui. Porque o design pode ser uma importante ferramenta de interação e, sobretudo, de desenvolvimento humano, de capacidade de percepção do mundo. Porque quando se trabalha com alguns princípios norteadores do design se trabalha com a visão sistêmica de mundo, muito mais completa, livre, capaz, arrojada, balizada não somente no eu, mas também no outro, na interação, no conjunto.

7 – Você acredita que o mercado mineiro está preparado para inserir o design como uma ferramenta educacional no cotidiano das pessoas? Por quê?

O mercado mineiro é conservador mas é ponta, é destaque em design no país. E há escolas inovadoras que fogem dos sistemas tradicionais de ensino e apostam na interação do ser humano. Pronto o mercado está. Existe espaço. Falta instrumentos e uma maior propagação do conhecimento dessas possibilidades para que se possa ter recursos a serem investidos. Essa é uma discussão que ainda está no princípio. Precisa chegar mais próximo dos educadores e pedagogos. O processo criativo de um designer pode e deve ser ferramenta educacional. Porque se vê o todo e não somente as partes. Porque se ataca os problemas de forma sinérgica e não dissociada.

8 – O que a sua empresa faz para mostrar que o design pode ser uma ferramenta educacional?

Aqui na Fábrika incentivamos e buscamos novas possibilidades de comunicação e aprendizado. Todo sujeito que chega À agência é treinado a conceber a partir de uma visão sistêmica. Fazemos isso o tempo todo nas discussões, brainstorms, na criação. À medida do possível difundimos informação e os conceitos básicos do design de forma que as pessoas em geral percebam sua importância, usabilidade, funcionalidade. Inclusive de forma provocativa nos projetos de sinalização, web, redes sociais que já participamos com redes de ensino ou escolas de línguas. Nossa luta é sair do quadrado, extrapolar formas, materiais, plataformas, provocar. Somente com a provocação saímos do lugar comum. Essa nossa filosofia está em trabalharmos de forma sistêmica, com comunicação integrada, com comunicação interna e externa, nas formas de pesquisa e estudos de interação empresa/instituição-comunidade, empresa/instituição-empresa/instituição, empresa/instituição-colaborador e no verso dessas relações. É imprescindível se colocar no lugar do outro para entender as necessidades de comunicação e educação. Porque educação é um processo contínuo que se dá por meio da comunicação. E comunicar não é via de mão única. Qualquer campanha, qualquer peça de design comunica, influencia e educa, desde que concebida sob uma visão sistêmica e funcional.

9 – O design thinking possui cinco etapas: descoberta, interpretação, ideação, experimentação e evolução. Qual a importância de trabalhar essas etapas na educação?

Quando se trabalha com essa etapas do Design Thinking na educação se forma indivíduos muito mais preparados para a vida. Porque mais que descoberta, interpretação, ideação, experimentação e evolução, estamos lidando com a experimentação e a interação com outras possibilidades, conhecimentos e opiniões, ou seja, estamos fornecendo crescimento, caldo cultural, poder de análise e de síntese ao educando. E hoje, como professor universitário, posso dizer que os jovens ainda estão distantes da experimentação, do conhecimento mais profundo sistêmico. Porque existe uma falha na educação que vem desde a base. Por isso hoje ou são críticos por sê-lo ou completamente alheios, morrem de preguiça de ler, não sabem enxergar, apenas vêem, não sabem escutar, apenas ouvem (fingem ouvir), não analisam, buscam as respostas prontas no Google.

10 – Quando falamos de design e educação, sempre nos remetemos a formação professores ou as tecnologias que estão sendo inseridas nas escolas. Como o design pode ser utilizado para educar as empresas?

Desde incomodando, causando estranheza, levando à reflexão, até modificando a relação lider-liderado por meio da busca conjunta de uma solução para os problemas que coloque esses indivíduos no centro da discussão, como ponto de partida para o problema e também para sua solução. Convocando as pessoas à interação e participação, à intervenção.

11 – O que você acredita que falta para o design ser mais reconhecido como uma ferramenta que apresenta soluções educacionais para as empresas de outros segmentos?

Difusão de informação, pesquisas, seminários sobre o assunto, desenvolvimento de pautas como essa nos meios de comunicação.

12 – Investir no design é uma forma de inovar o sistema educacional brasileiro? Por quê?

Com certeza. Porque desloca o formato atual, provoca movimento, incentiva a discussão, a interatividade, a colaboração, a construção do conhecimento.

13 – Conte um case na qual a sua empresa utilizou o design para a educação. Quais os objetivos, as ações desenvolvidas e os resultados alcançados?

Em 2005 fomos convidados pela MBR a fazer a inauguração de uma passarela sob a BR-040, no bairro Jardim Canadá. O desafio proposta pela empresa era que fosse uma inauguração diferente e incentivasse o uso da passarela na travessia da BR em frente ao posto Chefão. Após algumas reuniões com a equipe de comunicação chegamos à definição de que trabalharíamos a passarela de forma a educar os moradores da região a utilizá-la ao mesmo tempo em que os inserisse no contexto. Criamos o case “Andar na passarela está na moda”. O conceito era glamourizar a passarela para que fosse vista como objeto de desejo. Renato Loureiro foi contratado para desenvolver uma coleção a ser lançada na inauguração da passarela. E desafiado a criar uma camiseta, tingida com minério e bordada por senhoras integrantes da Cooperativa de Costureiras do bairro Jardim Canadá. À agência coube a criação do conceito visual e desdobramentos da campanha:um kit convite contendo embalagem, a camiseta bordada, convite e um um folder educativo. Uma empresa de eventos foi contratada para fazer a produção do desfile na passarela, com a contratação de modelos profissionais, nacionais, internacionais e meninas escolhidas na própria comunidade. A própria empresa mobilizou sua assessoria de imprensa alinhada à estratégia do evento. Fomos os primeiros a levar um desfile para uma passarela de pedestres. O pioneirismo e a efetividade da ação que contou com a presença de jornalistas de moda de todo o país, imprensa em geral e, lógico, os moradores do bairro beneficiados pela passarela, rendeu noticiário local, nacional e internacional. Causou impacto super positivo sobre os moradores que não só assistiram, mas participaram de todo o processo, estando inseridos em várias etapas do evento. O glamour levado à passarela de pedestres resultou num uso intenso da mesma e na sensibilização e educação do público local para seu uso. MBR/VALE e Fábrika foram agraciadas com o primeiro lugar no prêmio Aberje Minas e Aberje Brasil, de eventos especiais. Nessa estratégia foi utilizado o Design Thinking, o design gráfico e o design de moda.

Recentemente, agências de São Paulo, possivelmente inspiradas no case, criaram evento muito semelhante para lançamento de campanha da FIAT.

 

Robson Fontenelle é CEO da FBK Comunicação Integrada, prof. universitário, consultor do SEBRAE associado à ABEDESIGN.