Blog_atendimento_visao_designer

Já vai longe o tempo em que atendimento era um boy de luxo. Rapazes e mocinhas bonitinhos cumpriam a função de fazer reuniões com os clientes, buscar informações básicas e apresentar peças ou campanhas para aprovação – nem sempre com sucesso. Na maioria dos escritórios de design muitas vezes essa função sequer existia. A falta de uma percepção apurada da estética, da plástica, da busca pelo conceito na entrevista de briefing gerava uma certa desconfiança dos designers que preferiam realizar o briefing. E nas agências de publicidade, o planejamento muitas vezes preferia participar desse momento para conhecer melhor o problema de comunicação. Nos últimos 5 anos essa realidade mudou radicalmente.

Na atividade do Design, assim como na Publicidade, a figura do atendimento é de suma importância. À função, hoje, é necessário somar-se grande conhecimento técnico em planejamento, gestão de projetos, criação e até produção gráfica e eletrônica. O bom atendimento é perspicaz, está atento aos detalhes, sabe ouvir e não tem medo de perguntar. Sua missão é trazer todos os elementos necessários para que, junto com a equipe, desenvolva o planejamento e os pedidos internos de trabalho bem direcionados e explicados.

Na visão do designer, assim como de todo o criativo, o briefing deve ser conciso o suficiente para ser objetivo, abrangente o suficiente para se entender a complexidade do problema de comunicação a ser resolvido, tecnicamente detalhado para que não se transforme em uma viagem distante da realidade, pé no chão para dar a exata dimensão do que o cliente espera ou deseja afim de que se possa dosar as possibilidades criativas. Tem que ser complexo sem ser pedante ou com informações vagas ou dispensáveis. E o mais importante: tem que espelhar a realidade do cliente, as possibilidades e a capacidade de investimento. Há cores, formas, iconografia que não pode faltar? Tem padronização, tamanhos ou materiais pré-definidos? E as questões de usabilidade, ergonomia, visualização, acesso? Estão contidas no brief? E o tempo de execução demandado pelo cliente é o suficiente para atender a todo o processo de planejar, criar, testar e produzir? Porque não há nada que irrite mais um criativo do que a falta de resposta às suas perguntas e a falta de noção do tempo nas promessas feitas pelo atendimento ao cliente.

E não sem razão! Quando comecei na publicidade levávamos uma semana para criar um cartaz e tê-lo prototipado para a aprovação do cliente, quando não se aprovava o rafe em paspatur. Hoje, com o advento da informática, a clientela exige cada vez mais em menos tempo, como se o computador desse conta de criar sozinho: “É só um cartaz, é fácil, me entrega em 2 horas”! A velocidade da informação se virou contra a criação que agora tem que ser para ontem, à jato. E nessas, muitas vezes vemos por aí os resultados de peças óbvias, pouco criativas, que utilizam chupadas criativas, vetores modificados entre outras coisas. No tempo da velocidade não se pode errar porque tempo é dinheiro, retrabalho é perda de produtividade e de participação nos lucros.

O que o criativo e o designer da agência ou do escritório querem é informação e qualidade. Com a mesma objetividade da contemporaneidade, o conhecimento técnico, conceitual, tecnológico de um profissional antenado, conhecedor das ferramentas e das possibilidades, com um olhar treinado para sugerir ações, campanhas, peças e soluções relevantes e efetivas para os problemas de comunicação do cliente: um parceiro da criação que cobra, participa, demanda e defende as ideias da criação para o cliente e deste para a agência/escritório. Não é um perfil para qualquer um. Mas é o que cada vez mais se espera de um bom profissional de atendimento.

 

Robson Fontenelle é CEO da FBK Comunicação Integrada e da FBK Digital, prof. universitário, consultor do SEBRAE associado à ABEDESIGN.

Artigo originalmente publicado no Jornal Minas Marca, Setembro de 2015.